Testamento de um cão!
Autor: Frank Reichstein
Minhas posses materiais são poucas e eu deixo tudo para você… Uma coleira mastigada em uma das extremidades, faltando dois botões, uma desajeitada cama de cachorro e uma escudela de água que se encontra fendada na borda.
Deixo para você metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada, que você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito, que está debaixo do fogão da cozinha e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas, e sob o assoalho de minha cama. Além disso, eu deixo para você a memória, que, aliás são muitas.
Deixo para você a memória de dois enormes olhos marrons, a memória de uma caudinha curta e espetada, de nariz molhado e de choradeiras atrás da porta.
Deixo para você uma mancha no tapete da sala de estar junto à janela, quando nas tardes de inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu, e me enrolava feito uma bolinha para pegar um pouco de sol.
Deixo para você um tapete esfarrapado em frente à sua cadeira preferida, o qual nunca foi concertado com o tipo de linha certo, essa é a verdade. Eu o mastiguei todinho, quando tinha ainda cinco meses de idade, lembra-se? Também deixo para você a memória da primeira surra que levei e também todo o meu esquecimento.
Deixo para você um esconderijo que fiz no jardim, debaixo dos arbustos perto da varanda da frente, onde eu encontrava asilo durante aqueles dias de verão. Ele deve estar cheio de folhas agora, e, por isso, talvez você tenha dificuldades em me encontrar. Sinto muito!
Deixo, também, e só para você, o barulho que eu fazia ao sair correndo sobre as folhas de outubro, quando nós vagabundeávamos pelo bosque.
Deixo, ainda, a lembrança de momentos pelas manhãs quando saíamos juntos pela margem do riacho, e você me dava aqueles biscoitos de baunilha. Recordo-me das suas risadas, porque eu não conseguia alcançar aquele coelho impertinente. Deixo-lhe como herança minha devoção, minha simpatia, meu apoio quando as coisas não andavam bem; meus latidos quando você levantava a voz aborrecido… e minha frustração por você ter ralhado comigo todas as vezes que eu colocava o nariz debaixo da cauda. Eu nunca fui à igreja e nunca escutei um sermão. No entanto, mesmo sem haver falado sequer uma palavra em toda a minha vida, deixo para você exemplo de paciência, de amor e compreensão.
Sua vida tem sido mais alegre porque eu vivi.
O manual do cão
Rotina diária – O dia é dividido em duas partes importantes:
I. A hora das refeições e II. O resto todo.
I. A hora das refeições
- Só porque parece que não tem nada à vista para se comer, isso não quer dizer que não haja nada para se comer. O ato de olhar para baixo da mesa ou cadeira onde haja alguém comendo desencadeia uma série de eventos que acabam resultando em comida.
- Nem é preciso dizer que você deve verificar cuidadosamente a parte inferior de qualquer espaço em busca de algo comestível. Coisas que cabem na boca e não podem ser identificadas pela visão ou tamanho são consideradas boas para mascar.
- Quando lhe derem uma refeição, enfie sua cabeça nela como faria em um chuveiro.
- Nunca, nunca olhe para cima até pelo menos quinze minutos depois de toda a comida ter acabado. Isso é importante. Só porque o seu prato está vazio, não significa que está na hora de parar de comer.
- Lembre-se de que toda a comida é sua em potencial até o momento em que for engolida por outro. O longo caminho de um pedaço de comida do prato até uma boca através de uma mão dá tempo suficiente para você reivindicar os seus direitos.
- No que diz respeito a escolher a bebida adequada, o local e a embalagem não significam nada. Não há nenhuma exceção a essa regra.
- Se você realmente vir algo que quer e todas as outras tentativas de conseguir essa coisa fracassarem, é perfeitamente aceitável implorar sem vergonha. Uma segunda tática é olhar persistentemente para o seu objeto de desejo, deixando que a baba escorra pela sua boca.
II. O resto todo
- Na verdade, só há duas expressões faciais importantes que você deve saber fazer: alegria total e irrestrita e simplesmente nada.
- Qualquer hora que não seja hora de comer é, em potencial, hora de dormir. A melhor hora para tirar uma soneca é quando você ouve alguém chamar o seu nome sem parar. O melhor lugar para tirar uma soneca é no meio de qualquer rua ou passagem de carros. O posição mais relaxante é de lado, com as quatro patas esticadas paralelamente.
- A maneira mais prática de se secar é balançando-se com toda a força perto de uma pessoa vestida. O segundo método mais eficaz é sobre um móvel de cor clara.
Segurança pessoal - Ao primeiro indício de qualquer barulho estranho, corra de um quarto para outro, latindo alto. Se alguém realmente entrar na casa, corra em sua direção para ver se conhece ou não. Em seguida, dê um beijo tão violento que faça com que perca o equilíbrio e tenha que empurrá-lo com força.
- A maior ameaça não reconhecida à vida como nós a conhecemos são os esquilos. Não importa o que você tenha que fazer, certifique-se de que não haja nenhum em seu jardim.
Recreação e lazer - Bola: existem duas regras que você deve saber.
- O normal é quando alguém joga uma bola para você e você a traz de volta.
- O mais legal é quando alguém joga uma bola para você e você a come.
- Carro: como você sabe, qualquer porta de carro aberta é um convite para entrar. Depois de entrar, sua única meta é tentar encontrar uma forma de sair.
Saúde - No caso de uma visita ao veterinário, sempre fique com o pé atrás. Se lhe derem uma vacina, faça pipi no pé do veterinário.
A idade do Cão e a do Homem
Há várias explicações e teorias que relacionam a idade do cão e a do homem. A mais conhecida delas é a que diz que cada ano do cachorro corresponde a 7 anos de uma pessoa. Na verdade a relação entre a idade dos nossos amigos peludos e seus donos não é linear. Por exemplo: uma cachorrinha de um ano de idade já pode ter filhotes, mas uma criança de 7 anos ainda não está pronta para ser mamãe.
Existem pequenas variações nas tabelas que definem a correlação de idades entre os cães e humanos, mas, basicamente, você pode considerar que:
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